terça-feira, 30 de novembro de 2010

110#

atravessando o asfalto eu fiz um samba,
passeando no tornando eu fiz um samba,
correndo entre balas perdidas eu fiz um samba,
fugindo de barriga vazia eu fiz um samba,
chorando sem sinfonia eu fiz um samba,
vomitando de madrugada eu ria e fiz um samba,
entre pias e privadas eu fiz um samba,
morrendo sem teogonia eu fiz um samba,
vivendo sem nostalgia eu fiz um samba,
enchendo de gente a casa vazia eu fiz um samba
sobre iaiá e ioiô eu fiz um samba...
escrevendo sobre sinfonia eu fiz um samba
beethoven e mozart sambaram o meu samba
e a rainha de sabá se entregou no meu samba
lady di e lady kate ovacionaram o meu samba
e até a puta que paria ouvia o meu samba
e o mundo se acabando, se queimando, se dilacerando
se dissolvendo, se danando, se derretendo,
se aquecendo, se sufocando, se tremendo,
suava e só no sapatinho se sambava, só no samba de lamento...

domingo, 28 de novembro de 2010

109#

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! A alguns deles não procuro, basta saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida...mas é delicioso que eu saiba e sinta que eu os adoro, embora não declare e os procure sempre...

(Vinicius de Morais)

108#

sinto que me vês de longe
sei que tu me olhas
sei que cada aperto teu é um segredo
cada ouvido esticado quer minha voz

sei que cada palavra tua revela uma vontade
e que a cada manhã ela te invade
querendo me atacar na contramão
me arrastar, sufocar minha respiração

sei que gostas de mim de um modo particular
só você entende e sabe
sei também que para ti sou uma ameaça
pois gero conflito nas tuas idéias

assim, eu que me apaixonei por você,
é o meu coração que deita sangue por alguém
você indiferente nada sabe
sigo por uma estrada que liga o desespero ao nada...

sábado, 27 de novembro de 2010

107#

na minha cama um edredon xadrez, um cobertor listrado, duas gravatas jogadas, um cinto encurvado, cinco livros amontoados: germinal, horizonte perdido, oliver twist, memórias de adriano e memórias do livro, uma calça preta amassada, uma mochila largada... uma alma angustiada...

sábado, 20 de novembro de 2010

106#


eu esperei que a tempestade passasse
tranquei as portas e janelas
não adiantou, ela partiu minha casa ao meio
levou embora meu telhado e derrubou minhas paredes
eu corri procurando abrigo...
azul de frio e com os pés descalços sangrando...
não havia ninguem em parte alguma...
todos haviam ido embora enquanto eu me trancava
pensei que minha casa resistiria a força da natureza...
me dei mal...
só no mundo, espero do lado de fora a chuva passar
e talvez estes olhos vermelhos ainda veja o sol

105#

eu estou triste, novidade...
sonhei contigo,
me abraçava a todo instante
queria ficar perto de mim
eu, com medo me esquivava

sei que vais embora
não para tão longe dos olhos
mas a mil léguas do coração
e a vida toma o rumo que se esperava dela

eu não posso fazer nada
ruim esta sensação
ruim não poder ouvir tua voz todos os dias...
salve uma vez ou outra,
em intervalos entrecortados
entre janelas e espaços de tempo

mas nasci sem isso
vou morrer sem também
só me resta me acostumar um pouco
e viver com uma angústia alojada na garganta...
que hora me sufoca
mas ao me ver definhar
me deixa respirar
para poder me matar aos poucos